fonte: The NY Times

Desenvolvida em meados da década de 1980, a vacina contra a bactéria Haemophilus influenzae tipo b (Hib) —uma das que pode causar a meningite— não apenas protegeu contra a doença, como deu à comunidade científica uma importante descoberta. O imunizante foi o primeiro a comprovar a eficácia na técnica de conjugação de um polissacarídeo (açúcar) a uma proteína.

Os responsáveis pelo feito foram o pediatra norte-americano John B. Robbins (1932-2019) e a pesquisadora polonesa Rachel Schneerson, 88. A dupla trabalhava no Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês).

Àquela altura, a meningite por Haemophilus tipo b matava cerca de 400 mil crianças por ano, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Até os anos 1980, imunizantes contra doenças bacterianas eram frequentemente feitos da bactéria inteira ou de suas toxinas, que precisavam ser enfraquecidas, o que poderia levar a quadros de febres altas e convulsões. No pior dos cenários, se uma bactéria restasse viva, a criança poderia morrer.

A geração seguinte de vacinas, feita apenas dos polissacarídeos encontrados na superfície bacteriana, era mais segura, mas raramente tinha eficácia em crianças menores de dois anos, as principais vítimas da meningite. Já a vacina de Robbins e Schneerson, licenciada em 1989, protegia até bebês de dois meses.

A solução encontrada por eles, de anexar proteínas aos polissacarídeos nas cápsulas das bactérias, fazia com que a vacina fosse muito mais visível para o sistema imunológico imaturo dos bebês, que passava a montar respostas eficazes contra a bactéria.

Segundo estimativas, o imunizante já salvou sete milhões de vidas desde que foi implantado, e hoje é aplicado em mais de 180 países. Nos Estados Unidos, há, anualmente, um caso de meningite por Haemophilus tipo b a cada milhão de crianças menores de 5 anos.

Pediatras que trabalharam nos anos anteriores à vacina lembram da angústia ao ver, pelo microscópio, a bactéria Hib no fluido espinhal de bebês. Significava que, mesmo com antibiótico, a criança corria risco de dano cerebral permanente, surdez e morte.Tanto Robbins quanto Schneerson não enriqueceram após a descoberta.

“Tínhamos uma noção —talvez errada— de que aquilo foi feito usando dinheiro público e, portanto, deveria ser gratuito para a população”, disse a polonesa em entrevista ao jornal The New York Times em 2019, na ocasião da morte de Robbins. “Errada porque, logo depois, outra pessoa fez uma pequena modificação e solicitou uma patente da vacina”, explicou.

Mas o reconhecimento pela descoberta veio com uma extensa lista de premiações para a dupla. A última, concedida em 2017, foi o Prêmio Príncipe Mahidol, da família real tailandesa, na área de saúde pública.

No Brasil, o imunizante faz parte do calendário nacional de vacinação infantil desde agosto de 1999. É oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde).